
A falta de um representante direto na Câmara Federal tem custado caro para Marília, impactando a destinação de verbas e a prioridade em políticas públicas. Ainda que eleitos ‘adotam’ a cidade como sua, o Município vem acumulando algumas Legislaturas seguidas sem um autêntico representante da cidade no Congresso brasileiro. Cidade média do Interior paulista entre as 40 maiores populações do Estado mais rico do Brasil, Marília vê, a cada eleição para a Câmara dos Deputados, a fuga maciça de votos. Menos de um terço dos votos válidos para candidatos locais.
Contudo, a pulverização em candidatos próprios quando há excesso de nomes para uma vaga tão concorrida - como é a de parlamentar federal - também consiste em algo prejudicial. O quociente para assegurar uma vaga em Brasília, em 2022, foi de 332.671 votos. O Patriota, por exemplo, recebeu quase 244 mil votos naquela ocasião e o candidato por Marília, Juliano da Campestre, consistiu no campeão de votos da sua legenda, com mais de 22 mil votos. Entretanto, ele não ficou com a cadeira. Juliano, em entrevista ao jornal A Cidade, vê a pulverização de votos - quando há muitos candidatos de uma mesma localidade - um dos fatores que vem dificultando Marília voltar a ter um político genuinamente mariliense na Câmara dos Deputados.
Perda de R$ 60 milhões em Emendas
Juliano da Campestre apontou que, na ausência de um deputado federal diretamente comprometido com a cidade, Marília pode perder anualmente entre R$ 40 milhões e R$ 60 milhões em um período de quatro anos. “Esses recursos, provenientes de emendas parlamentares, são geralmente concentrados por deputados em suas cidades-base ou nos locais onde obtiveram a maior votação. Sem um nome eleito localmente, Marília acaba dependendo da ‘boa vontade’ de políticos de outras regiões, que priorizam suas bases eleitorais e deixam para a cidade apenas as sobras desses investimentos”, contextualizou Juliano.
O suplente ainda explicou que os candidatos de fora, que acabam sendo eleitos, geralmente contam com uma estrutura partidária mais forte, grande investimento em campanha, apoio de lideranças regionais e maior visibilidade em nível nacional ou estadual. “Mesmo transferindo o domicílio eleitoral ou prometendo ‘abraçar’ a cidade, muitos desses parlamentares não têm um histórico de contribuição real com a comunidade, o que os afasta do eleitor mais consciente e reduz seu comprometimento com o desenvolvimento local”, salientou o suplente.
A situação, segundo a análise, cria um ciclo negativo: o grande número de candidatos locais impede a eleição de um representante, enquanto os candidatos de fora, que vencem, não possuem laços fortes com o município. “O resultado é uma cidade sem um deputado atuante, que perde recursos diretos em setores essenciais como saúde, educação, infraestrutura e cultura”, observou. Juliano comentou que, com a recente situação da deputada Carla Zambelli - presa na Itália, após fugir do Brasil pelos EUA - abriu-se uma possibilidade dele assumir a vaga de deputado federal. “É uma chance remota, contudo, se tivermos 1% de chance, vamos lutar para conseguir estar lá em Brasília”, concluiu. A possibilidade existe porque, caso a deputada venha a perder seu mandato por conta de uma condenação criminal, pode-se anular os votos que ela recebeu e, assim, abrir nova contagem para o quociente eleitoral.