
A frota de veículos registrados em Marília apresentou crescimento expressivo de 48,06% entre dezembro de 2012 e agosto de 2025, um período de 12 anos e 8 meses. A expansão, que adicionou mais de 63 mil veículos às ruas, configura um cenário de crescente dependência do transporte individual, o que impacta diretamente a infraestrutura urbana e a qualidade do transporte público. O transporte coletivo, por sua vez, viu, neste período, a ‘fuga’ de meio milhão de passageiros.
O número total de veículos saltou de 131.586, em dezembro de 2012 - base para a composição do atual contrato de concessão do transporte coletivo de Marília - para impressionantes 194.834 - no dado mais recente de 2025, referente ao mês de agosto. A estatística se torna ainda mais preocupante quando cruzada com os dados do transporte coletivo municipal.
Enquanto as ruas se enchem de carros, motos e utilitários, o sistema de ônibus enfrenta uma grave crise de demanda. O contraste é evidente: no início do contrato vigente, com referência ao período de 2011 e 2012, as estimativas mostravam que o transporte coletivo em Marília era utilizado por mais de 1 milhão de passageiros pagantes por mês.
Hoje, o sistema transporta uma média de, aproximadamente, 500 mil passageiros pagantes por mês. Essa queda de cerca de 50% na demanda de passageiros é um reflexo direto do aumento da frota e da insatisfação com a qualidade e a eficiência do serviço de ônibus. O crescimento percentual de algumas categorias de veículos individuais reforça o abandono progressivo do transporte coletivo. A frota de automóveis (carros, SUVs, etc…) cresceu 37,73%, passando de 76.863 para 105.865 unidades nas vias da cidade.
Quase 80% a mais de motos
A categoria de motocicletas - composta por veículos de duas rotas, como motonetas - registrou um crescimento ainda mais acentuado, com um aumento de quase 80%, 77,75% exatamente. O número de motos subiu de 35.445, em 2012, para 62.996, agora em agosto de 2025, evidenciando que as duas rodas têm sido a principal escolha para quem busca fugir do trânsito e da dependência dos ônibus.
Até mesmo os ciclomotores (como as scooters de 50cc) apresentaram um crescimento de 15,59%, confirmando a busca por veículos mais econômicos e ágeis para os deslocamentos diários, em detrimento do uso do transporte público. No entanto, o crescimento mais expressivo ocorreu na categoria de utilitários, que explodiu em 517%, saltando de 401 para 2.474 veículos, indicando uma mudança no perfil de consumo e nas necessidades logísticas e de serviço da população e das empresas locais.
A comparação entre a expansão da frota individual e a retração pela metade no volume de passageiros transportados por ônibus (cerca de 500 mil/mês atualmente) reforça a necessidade da remodelagem do sistema de transporte coletivo. A falta de competitividade do serviço de ônibus frente ao veículo particular - que oferece mais flexibilidade, pontualidade e conforto - é o principal fator por trás desta migração. Este desequilíbrio cria um círculo vicioso: menos passageiros resultam em menos investimento e, consequentemente, em um serviço pior.
Pelo menos 2 mil Ubers em Marília
O intenso crescimento da frota de veículos individuais em Marília, que alcançou 105.865 automóveis em agosto de 2025, coincide com a crise do transporte coletivo. Se a proporção nacional de trabalhadores por aplicativo no setor de transporte, que é de aproximadamente 2% da população ocupada, for aplicada diretamente ao volume de carros da cidade, estima-se que existam, em Marília, pelo menos 2.117 veículos operando em plataformas e aplicativos de viagens, a exemplo do Uber. O número é contraponto à queda na demanda do sistema de ônibus, que perdeu metade de seus passageiros desde 2012, sendo o transporte por aplicativo uma das alternativas preferidas pelos ex-usuários do coletivo.