
Os dados com base no Censo 2022 divulgados recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) sobre o deslocamento para o trabalho e estudo em Marília confirmam o domínio do transporte individual e a crise de adesão ao sistema coletivo na cidade. O ônibus, meio que mais favorece a mobilidade urbana por sua natureza compartilhada, é utilizado por menos de 14% dos trabalhadores marilienses, ficando atrás do automóvel, que concentra quase metade dos deslocamentos.
A pesquisa detalha que das 98.660 pessoas analisadas, apenas 13.741 (13,98%) utilizam o ônibus. Em nítido contraste, o automóvel é a escolha de 47.149 pessoas, o que representa 47,97% do total. A motocicleta também se destaca, sendo o meio de transporte de 21.721 pessoas (22,1%). Os números evidenciam que o mariliense realmente "deixou de usar os ônibus". A caminhada, apesar de mais sustentável, é o meio de 10,08% dos trabalhadores (9.912 pessoas). Já a bicicleta, que não polui e é mais adequada para a mobilidade individual, é quase "esquecida", sendo utilizada por apenas 3.295 pessoas, o equivalente a apenas 3,35% do total de deslocamentos.
A cidade, que já não conta com o trem para transporte de passageiros desde a década de 2000, opera seu transporte coletivo urbano por meio de duas companhias concessionárias e possui um terminal central com integração. O tempo máximo de deslocamento para estudos ou trabalho na cidade é de duas horas, com raras exceções, conforme evidenciado no estudo do IBGE.
Perfil do usuário
O levantamento do IBGE também traça o perfil de quem ainda depende do transporte coletivo. A proporção por cor da pele de quem utiliza os ônibus em Marília é de 24% de pretos, 20% de pardos e 11% de brancos, indicando uma maior dependência do sistema entre a população preta e parda.
Um recorte da pesquisa revela dados curiosos sobre o local de trabalho dos marilienses. A esmagadora maioria, 83,88% (96.472 pessoas), trabalha na própria cidade. Enquanto isso, 12,47% (14.341 pessoas) adotam o home office e 2,96% (3.406 pessoas) se deslocam para trabalhar em outra cidade. O fato mais inusitado, porém, é que 44 pessoas de Marília - apenas 0,04% do total - estão empregadas diretamente em outros países, como Estados Unidos e Alemanha.
Entre os que trabalham de home office, os que estão empregados em outro país, praticamente não precisam se deslocar de casa para o trabalho diariamente, mas quem tem que ir bater ponto e dar expediente na firma e opta a ir a pé, leva 5 minutos para chegar. Mais de 26% relataram que esse é o tempo médio de uma caminhada de casa até o trabalho.
A velocidade do deslocamento também varia drasticamente. Já para quem vai de carro, predomina o tempo de 6 a 15 minutos (quase 45%), indicando a conveniência do transporte individual. Por outro lado, a maioria de quem vai de ‘busão’ leva de 31 minutos a 1 hora, com quase a metade dos usuários passando esse tempo no trajeto (47,66%).
Diante do cenário de baixa adesão ao transporte coletivo, que impacta diretamente a sustentabilidade e a qualidade do serviço, a Prefeitura de Marília informou no começo do ano que estuda a abertura de um novo processo de concessão do transporte coletivo. A Emdurb e a Procuradoria Jurídica do município se dedicam à análise dos dados das fiscalizações do sistema. Os estudos em andamento visam definir o futuro modelo de concessão, o número de empresas operadoras e as medidas para solucionar a desatualização da frota.