
O cenário de reclamações do consumidor mariliense, nos primeiros nove meses de 2025, traça um panorama de fragilidade social que exige mais que meras estatísticas: uma profunda reflexão sobre a ética dos negócios na era da hiperconectividade. Se no mesmo período de 2024 as queixas mais frequentes convergiam para o trinômio 'empréstimos, cartões rotativos e serviços de telecomunicação', o ano de 2025 inverteu dramaticamente as prioridades de aflição, colocando no topo da lista denúncias contra empréstimos de bancos e INSS.
Denúncias contra empréstimos de bancos e INSS tornaram-se a categoria mais comum de reclamação registrada no Procon de Marília nos primeiros nove meses de 2025. O órgão de defesa do consumidor indica que 85% de sua demanda total neste período tem como referência a população idosa. Os três segmentos com maior volume de queixas são Bancos, INSS e Associações, seguidos por telefonia e TV a cabo.
O que esta mudança revela é a especialização da predação: a fragilidade financeira e informacional da população idosa, que se tornou o alvo preferencial. Essa concentração no setor financeiro, que deveria ser o pilar da estabilidade, acende um sinal vermelho sobre as práticas que permeiam a concessão de crédito consignado. No âmbito das reclamações, o problema é cristalino e doloroso: a principal causa reportada são os empréstimos e o combo INSS/associações.
O drama se aprofunda na avaliação do Procon: “A grande maioria dos casos de INSS e empréstimos tratava-se de golpes ou cobranças abusivas”, informou o órgão. É aqui que a ingenuidade da confiança se choca com a engenharia sofisticada da fraude. A situação de empréstimos irregulares reflete um caso de repercussão nacional, motivando a alta concentração de atendimentos a consumidores mais velhos.
É importante que a sociedade pare e contemple o que estes números significam. Em um país onde a faixa etária acima de 60 anos ainda ostenta índices significativos de analfabetismo funcional, e a necessidade de complementar a renda os empurra para o endividamento, empresas e golpistas encontram um campo fértil para ludibriar e enganar. A fragilidade de quem construiu uma vida transforma cada aposentadoria em um prêmio a ser disputado por cobradores vorazes.
Contudo, o consumidor não está sozinho na selva do mercado. É essencial que o cidadão, ao se sentir lesado, duvidar de uma cobrança ou desconfiar de uma proposta, procure imediatamente o órgão de proteção. O Procon existe para defender os direitos que a lei lhes confere. Se as empresas se valem da fragilidade, o consumidor deve se valer da Justiça. A informação é a primeira linha de defesa contra a má-fé.
O panorama de Marília é um microcosmo do Brasil: bancos e o sistema de crédito lideram as denúncias, os idosos são o alvo mais atacado por golpes e abusos, e a luta pela dignidade financeira se tornou a grande pauta do Procon. A Prefeitura de Marília, por meio do Procon, informa que o novo endereço para atendimento é rua Bandeirantes, nº 59. O horário de funcionamento é das 8h às 17h, período em que o consumidor pode buscar a Defesa do Consumidor para informações e denúncias.