
O futuro logístico da região de Marília está conectado a um prazo judicial inadiável: janeiro de 2026. Esta é a data limite estabelecida para a desocupação voluntária do antigo pátio ferroviário e das faixas de domínio, áreas cruciais para o avanço das obras da Rumo no ramal Bauru-Panorama. A concessionária cumpre o compromisso contratual de reativação junto à União e à ANTT, com previsão de conclusão do projeto em 2028, mas o cronograma de infraestrutura agora se move em compasso de espera com a resolução do impasse fundiário e habitacional.
A tensão se concentra especialmente na área do antigo pátio, onde hoje funciona de forma irregular o chamado "Camelódromo", um polo de comércio popular que se formou com a urbanização após a ferrovia ser abandonada. A última vez que um trem passou por este trecho foi nos primeiros anos da década de 2000, e desde então, o esquecimento da malha permitiu que lojas e boxes de comércio ocupassem a faixa ao longo da antiga estação. Esta ocupação irregular consolidada gerou um impasse de grandes proporções.
Em busca da reintegração de posse, a Rumo obteve uma decisão liminar favorável, enfrentando o descumprimento do prazo inicial de desocupação voluntária por parte dos ocupantes. Foi necessária a realização de uma nova audiência de conciliação, que sacramentou a data-chave de janeiro de 2026 como o novo e derradeiro prazo. A cidade de Marília, portanto, tem pouco mais de um ano para encontrar soluções definitivas para a realocação das atividades comerciais e, principalmente, das famílias atingidas.
Reintegração de posse em 3 etapas
Enquanto a questão fundiária e social avança na esfera jurídica e política, as obras de reativação da ferrovia seguem, divididas em três etapas bem definidas. O trabalho começou com a limpeza da vegetação ao longo da linha férrea, preparando o terreno para as fases subsequentes, que demandam acesso desimpedido. O monitoramento contínuo das faixas de domínio pela empresa visa evitar novas ocupações, com notificações extrajudiciais e, quando necessário, medidas judiciais contra novos invasores.
A segunda etapa do projeto concentra-se na recuperação da infraestrutura básica da linha. Isso envolve a correção de erosões graves e ajustes em cortes e aterros ao longo do trajeto, preparando o leito da ferrovia para suportar o tráfego pesado de trens de carga. A fase seguinte, a terceira, é a mais visível, abrangendo a recuperação da superestrutura com a adequação e substituição de dormentes, trilhos e lastro de brita, além da instalação de grades em pontos vulneráveis a vandalismo.
No que tange às moradias, o drama humano é a prioridade. A empresa iniciou um acompanhamento social individualizado, enviando equipes especializadas em visitas técnicas para mapear as necessidades de cada núcleo familiar estabelecido irregularmente na faixa de domínio. A Rumo reconhece a relevância da questão social e busca agir com sensibilidade.
O acompanhamento inclui a orientação minuciosa sobre os direitos das famílias e as possibilidades de encaminhamento habitacional junto aos órgãos competentes da prefeitura. A concessionária atua ativamente para minimizar os impactos do reassentamento e, sobretudo, preservar a dignidade das famílias em situação de vulnerabilidade, garantindo que o retorno dos trens, previsto para 2028, não seja marcado por um trauma social.
A contagem regressiva para janeiro de 2026 é, na prática, o teste de fogo para a capacidade de Marília conciliar o desenvolvimento econômico - representado pelo modal ferroviário - com a responsabilidade social. O êxito do projeto de R$ 56 milhões não se dará apenas na reconstrução dos trilhos, mas na gestão eficiente e humanizada do complexo mosaico de comércios e moradias que o tempo e o abandono consolidaram.