O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) recebeu, em 8 de setembro de 2025, um pedido formal de tombamento que abrange o Conjunto Aeroportuário de Marília, incluindo o Terminal de Passageiros, a Oficina Marília de Aviação, o Aeroclube e suas aeronaves. A solicitação, que será avaliada pelo Conselho para decidir se abre ou não o estudo de preservação, adicionou uma nova e complexa variável ao impasse já existente entre o histórico Aeroclube de Marília e a concessionária Rede VOA sobre a modernização da estrutura aeroportuária.
O Aeroclube de Marília, fundado em 1940 e celeiro de mais de mil pilotos – entre eles o comandante Rolim Amaro, fundador da TAM –, estava no centro de uma disputa de desocupação com a Rede VOA. Em entrevista, diretores da entidade argumentaram que a defesa não era meramente patrimonial, mas estratégica para o desenvolvimento do Aeroporto Frank Miloye Milenkovich, patrono cuja assinatura consta na ata de fundação do Aeroclube.
A principal divergência residia na área a ser utilizada para as novas obras. O Aeroclube ocupava apenas 0,5% da área concedida à VOA e propunha, como solução alternativa, utilizar uma faixa de terra de 70 mil metros quadrados, localizada atrás dos hangares particulares, para a construção do novo terminal.
Lei Municipal
Este conflito foi agravado após a aprovação de uma lei local. Em 6 de março de 2025, a Câmara Municipal de Marília aprovou um Projeto de Lei, de autoria do vereador Dr. Élio Ajeka – da base de apoio ao prefeito Vinicius Camarinha –, que determinava o tombamento do Aeroclube de Marília. A decisão, que ocorreu no ano em que a entidade completou 85 anos, visou proteger o local por seu inegável valor histórico, cultural, educacional e social. Com a aprovação, o tombamento impediu qualquer intervenção que alterasse seus aspectos históricos, exigindo que modificações fossem previamente aprovadas pelo Conselho Municipal de Cultura e de Defesa do Patrimônio, o que motivou a ação judicial da Rede VOA.
Apesar da ação judicial, a solução veio pelo diálogo. Em coletiva de imprensa realizada em 9 de outubro de 2025, o prefeito Vinicius Camarinha anunciou que o Município liderou uma conciliação para viabilizar as melhorias aeroportuárias e, simultaneamente, preservar a história da entidade. A solução prevê que a Prefeitura doará uma área de 2.221 metros quadrados, localizada entre as ruas Hélio Alves Ambrósio e Aldino Grassi, ao lado do aeroporto, para a construção da nova sede do Aeroclube.
Em contrapartida, a entidade deverá desocupar o espaço histórico, liberando a área para os investimentos da Rede VOA. Para selar o acordo, o prefeito adiantou que será enviado à Câmara Municipal um Projeto de Lei para reorganizar o tombamento histórico do Aeroclube, garantindo que o decreto não mais impeça as obras e investimentos essenciais na estrutura do terminal.
O patrimônio histórico em Marília
O debate sobre o tombamento do complexo aeroportuário ocorre em um contexto de escassez de patrimônio histórico reconhecido na cidade. Apesar de Marília ter completado 96 anos de emancipação política, possui apenas três bens tombados pelo Condephaat: o sobrado localizado na rua Dom Pedro, a histórica chaminé da antiga indústria Matarazzo e o prédio que abriga a escola do Senac, ao lado da Basílica de São Bento. A movimentação iniciada em março de 2025 para incluir o complexo aeroportuário na proteção do órgão sinaliza uma busca por valorização do patrimônio local.
Diante do cenário e da nova solicitação de tombamento no Condephaat, o Conselho se colocou à disposição para auxiliar na preservação, contando com equipe técnica para orientar sobre a manutenção. O órgão tem canais informativos dedicados a Prefeituras. A reportagem do jornal A Cidade buscou contato com o presidente da Comissão dos Registros Históricos de Marília, o vereador Dr. Elio Ajeka, e com a comissão – através de e-mails enviados às contas oficiais de ambos – entretanto, não obteve retorno até o fechamento desta edição.