Cidades Levantamento
Marília estima ter 450 pessoas em situação de rua, mas capacidade de acolhimento é parcial
Dependência química, transtorno mental e acolhimento da cidade são citados como causas da permanência, segundo a Prefeitura Municipal
23/10/2025 11h33 Atualizada há 2 meses
Por: Redação
O fluxo de migrantes é monitorado pela Assistência Social para entender sua origem e o que buscam ao chegar em Marília

O dilema da população em situação de rua em Marília se torna mais complexo a cada levantamento. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, divulgados pela Diretoria de Divulgação e Comunicação, após consulta da reportagem do jornal A Cidade à Prefeitura de Marília, o Município monitora ativamente cerca de 450 indivíduos que dependem dos serviços de acolhimento e apoio, como o Centro Pop e o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS).

No entanto, este número é apenas a ponta de um iceberg social, uma vez que a própria administração reconhece que há um contingente invisível que se recusa a aderir aos programas e se dispersa por áreas periféricas, como as zonas Norte, Sul e Oeste. O desafio, portanto, não é apenas de acolher a demanda conhecida, mas de alcançar e reintegrar aqueles que optaram pela margem, em um cenário onde o aumento exponencial da vulnerabilidade exige respostas que vão muito além da simples oferta de pernoites e refeições.

Os dados confirmam que a gestão municipal possui um mapeamento e um perfil demográfico dos atendidos. A equipe do SEAS realiza abordagens diárias em locais de maior concentração e atende a denúncias, documentando todos os atendimentos feitos tanto na rua quanto no Centro Pop. Esse registro permite uma compreensão mais aprofundada das características e necessidades dessa população.

No que se refere à oferta de serviços, o Centro de Referência para População em Situação de Rua (Centro Pop) atua como a porta de entrada. Ali, são realizados escuta ativa, encaminhamentos a políticas públicas, apoio na documentação, fornecimento de alimentação por meio de vales do Restaurante Popular Bom Prato, além de acesso a banho e lavagem de roupas.

Centro Pop e Casa Cidadã oferecem a porta de entrada com escuta ativa, alimentação e
pernoites para a população em situação de rua - Foto: Divulgação/PMM

Rede de apoio à população em vulnerabilidade

Complementando o Centro Pop, a Casa Cidadã oferece pernoites e acolhimento, enquanto o SEAS se mantém na linha de frente com as buscas ativas, orientações e encaminhamentos. Juntos, esses equipamentos formam a rede de proteção inicial.

 Apesar da estrutura, a Secretaria é franca ao admitir que a capacidade atual é apenas "parcialmente" suficiente para a demanda existente, que tem crescido de forma "exorbitante". O gargalo está, principalmente, na falta de recursos humanos e físicos que acompanhem a complexidade do desafio social.

‘Cidade Mãe da População em Situação de Rua’

Entre as razões para o crescimento e a permanência dessa população em Marília, destacam-se a dependência de substâncias psicoativas e o transtorno mental, muitas vezes associados. Curiosamente, a própria qualidade do atendimento e acolhimento municipal, somado ao apoio da sociedade civil por meio de doações, são apontados como fatores de atração, o que rendeu à cidade o apelido de ‘Cidade Mãe da População em Situação de Rua’, segundo relatos dos próprios usuários.

O monitoramento do fluxo de migrantes consiste em uma prática constante. Todos os equipamentos de assistência social realizam atendimento técnico detalhado para compreender a complexidade, a origem e os objetivos dos migrantes que chegam ao Município.

O caminho para a reintegração social

Para além do acolhimento básico, a Prefeitura busca promover a reintegração social. Diariamente, são divulgadas vagas de emprego do Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) e cursos de capacitação profissional do CEPROM e SENAC. A Secretaria ressalta que a maioria dessa população já é assistida por programas de transferência de renda, como o Bolsa Família (R$ 600,00) ou o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

O acesso à saúde é garantido pela equipe do Consultório na Rua, que é composta por uma assistente social, uma psicóloga, uma técnica de enfermagem, uma enfermeira e um motorista. Raras cidades do Interior do Estado de São Paulo dispõem deste serviço público em saúde. Esta equipe avalia a situação dos usuários com demandas vindas de toda a rede de assistência e da população, encaminhando-os para as unidades de saúde conforme a gravidade, sendo a UBS Cascata a unidade de referência.

A articulação com outras secretarias - Saúde, Trabalho, Direitos Humanos - e com a sociedade civil é vista como um ponto de melhoria. A parceria entre secretarias existe, mas a gestão acredita que "é preciso estreitar ainda mais as relações" para um melhor fluxo de trabalho. Já com as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e igrejas, a parceria é considerada boa, mas ainda não é formalizada.

 Desafio multifacetado

 A transparência da gestão ao admitir a demanda excedente e a necessidade de reforço indica que o desafio da população em situação de rua em Marília é multifacetado e exige uma resposta coordenada e com investimento ampliado para manter o nível de acolhimento que a cidade já oferece. O Centro Pop é a porta de entrada para os serviços de assistência, oferecendo escuta, banho e alimentação. Profissionais do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) realizam atendimento técnico nas ruas da cidade.