Levantamento da Secretaria Municipal de Saúde de Marília, realizado em 24 de janeiro de 2025, revelou um desafio monumental na rede básica: 77.600 pacientes aguardavam por uma primeira consulta em diversas especialidades médicas. A vasta lista de espera, uma espécie de "censo" da demanda represada, acendeu o alerta máximo na gestão municipal, forçando a aceleração de um plano contínuo e com alto investimento para tentar normalizar o acesso aos serviços de saúde.
O peso dessa fila é sentido de forma particular em áreas críticas. A ortopedia liderava, até então, a demanda represada, com 6.500 pacientes à espera, seguida de perto pela dermatologia, com 5.090 pessoas. Outras especialidades com milhares de marilienses aguardando incluem otorrinolaringologia (4.249), neurologia (4.087), oftalmologia (3.600), gastroclínica (2.800), psiquiatria (2.700) e urologia (2.220), evidenciando a urgência de uma resposta abrangente.
A espera não se limitava às consultas. A lista de exames represados também era significativa, com destaque para o raio-x, que concentrava 13.580 pacientes na espera. Procedimentos de maior complexidade e custo, como a endoscopia (3.850), ultrassom de articulação (1.515), ressonância magnética (1.077), eletroneuromiografia (862) e holter 24 horas (820), somavam milhares de vidas em espera, aguardando o diagnóstico para dar seguimento ao tratamento.
O represamento se estendia também às intervenções cirúrgicas. Na Santa Casa de Misericórdia de Marília, a espera somava 721 cirurgias ortopédicas de média e alta complexidade, 25 de otorrino e 28 vasculares . Paralelamente, na Clínica Aconchego, havia a espera por 86 cirurgias de vasectomia.
Zera Fila
Para enfrentar esse cenário, o novo governo municipal - que havia assumido a cidade em 1º de janeiro de 2025 - determinou à Secretaria Municipal de Saúde implantar o Programa Zera Fila na Saúde. A secretária municipal de Saúde, a médica Paloma Libânio, revelou que entre 1º de janeiro e 14 de julho de 2025, a iniciativa já resultou na realização de 75.224 exames e procedimentos complementares.
A performance do programa, que englobou ultrassons, eletroneuromiografia, endoscopia, colonoscopia, MAPA, holter 24 horas e raio-x, demandou um investimento substancial dos cofres públicos. Os custos totais desses procedimentos e serviços já ultrapassaram a marca de R$ 9,5 milhões do orçamento do município de Marília. Ao detalhar a estratégia do programa em resposta ao requerimento elaborado pela Câmara Municipal de Marília, Paloma Libânio fez questão de traçar um limite. “É importante destacar que o Programa Zera Fila não se confunde com ações pontuais ou mutirões assistenciais”, pontuou a secretária, sublinhando a diferença entre a iniciativa municipal e soluções emergenciais.
A médica ressaltou que a execução do programa é um processo meticuloso. “Sua implementação exige planejamento contínuo e rigoroso, com etapas articuladas que envolvem a regulação da demanda, triagem clínica, preparação dos pacientes, alocação adequada de recursos humanos e a realização dos procedimentos conforme critérios técnicos e protocolos clínicos estabelecidos”, considerou.
A abordagem técnica é uma prioridade, dada a complexidade de cada caso. “Cada atendimento requer avaliação individualizada e consideração da complexidade, o que se mostra incompatível com abordagens generalistas ou baseadas exclusivamente em metas quantitativas”, explicou Paloma Libânio. Para a secretária, o foco da política de saúde deve transcender a simples contagem. “A política pública de saúde deve reconhecer o cidadão não como um número a ser retirado de uma lista, mas como um sujeito de direitos, que necessita de atenção qualificada e respeitosa”, finalizou, reforçando a importância do acolhimento.
O expressivo número de 75 mil procedimentos realizados em cerca de seis meses demonstra o esforço da gestão para desatar o nó da demanda reprimida, consumindo milhões em recursos públicos para garantir o avanço de diagnósticos e tratamentos. Apesar do alto investimento e do volume de exames e procedimentos executados pelo Zera Fila, a fotografia tirada em janeiro, com quase 78 mil pacientes na fila por consultas e milhares de exames e cirurgias represadas, ilustra a dimensão do desafio estrutural. O Município demonstra que a solução para a saúde pública é custosa e exige não apenas injeção de capital, mas a manutenção de um planejamento contínuo e rigoroso para que a população mariliense consiga, de fato, sair das longas filas.