Quase 60 anos antes da fundação de Marília, em 4 de novembro de 1869, em Londres, Inglaterra, foi publicada a primeira edição da revista científica Nature. Se tivesse saído exatamente 10 anos antes, em novembro de 1859, provavelmente ali mesmo na Londres do Reino Unido um certo cientista poderia ter recorrido às suas páginas para publicar um estudo que alteraria a interpretação da história natural: ‘A origem das espécies’. Charles Darwin publicou em livro a teoria sobre a evolução dos seres vivos da Terra, mas, certamente, sua obra seminal renderia capa e capítulos na Nature. Mas Darwin, que morreu em 19 de abril de 1882, viria a publicar ao menos um artigo científico na Nature, isso ocorreu em abril de 1873. No Século seguinte, outro famoso cientista viria a publicar artigos científicos antológicos na Nature, o físico Stephen Hawking (1942-2018), principalmente os seus estudos sobre o espaço.
Acontece que assim como Charles Darwin e Stephen Hawking, ou o projeto Genoma Humano em fevereiro de 2001 tão revolucionário quanto a origem das espécies, Marília e a paleontologia alimentada pelas incansáveis pesquisas de William Nava ganharam as páginas do periódico que acompanha o fazer científico mundial. Diversos artigos com participação de pesquisadores brasileiros ou sobre descobertas feitas no Brasil já foram destaque na capa da Nature.
Alguns exemplos incluem achados paleontológicos em Marília e no Rio Grande do Sul, estudos sobre a Amazônia, nanotecnologia/grafeno e saúde. Em 2024, a Nature publicou um artigo de capa sobre um fóssil de ave descoberto por William Nava, um importante elo evolutivo. Embora seja um desafio, a ciência brasileira tem produzido pesquisas dignas da capa da Nature. A revista recebe milhares de pesquisas, e os artigos de capa precisam ser excepcionais e impactantes. Stephen Hawking, por exemplo, publicou vários artigos na Nature, incluindo um sobre a radiação de buracos negros.
Ave preservada
A edição da Nature com a capa de Marília foi publicada em novembro de 2024. O fóssil achado data entre 85 e 75 milhões de anos, que compreende o período Cretáceo e vem sendo classificado pela pesquisa mundial como elo evolutivo. Isso porque compartilha características entre a mais antiga ave fóssil conhecida, a Archaeopteryx, do Jurássico da Alemanha, e as aves modernas. “É a mais bem preservada ave fóssil do Cretáceo de todas as Américas, preservada em 3D, contribuindo para a compreensão dos processos evolutivos que esse grupo de vertebrados passou, ao longo de milhões de anos”, explicou o paleontólogo Nava.
O fóssil pertence ao acervo do Museu de Paleontologia de Marília e o local, desde que foi reinaugurado, já recebeu mais de 18 mil visitantes. Estima-se que no primeiro semestre deste ano de 2025, entre seis mil a oito mil visitas aconteceram. O número varia porque muitas vezes quando o local recebe turmas e mais turmas de estudantes, apenas os responsáveis pelos alunos acabam assinando o livro de visita. Além de Marília e cidades da região, e até de cidades brasileiras bem distantes, como Manaus, no Amazonas, passam pelo museu visitantes internacionais, como moradores de Nova York, EUA, Londres, Inglaterra, Buenos Aires, Argentina, Paris, na França, entre outros.
Ali existem fósseis únicos, como o descrito pela revista Nature no artigo e capa de novembro de 2024. O achado de Nava aconteceu durante escavações na região de Presidente Prudente, na pedreira ‘William’s Quarry’, do sítio paleontológico professor José Martín Suárez. Além do crânio, parte do esqueleto pós craniano está articulado, indicando ter sido, em vida, uma ave de porte semelhante a um pardal, e, que, certamente deveria realizar voos sobre as cabeças dos titanossauros.